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Bruna Frascolla
June 4, 2025
© Photo: Public domain

Neste domingo, Eduardo Bolsonaro, possível herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro, divulgou um vídeo aderindo ao nacionalismo.

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Neste domingo, Eduardo Bolsonaro, possível herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro, divulgou um vídeo aderindo ao nacionalismo. Ele elogiou não só o regime militar, como também ícones da esquerda brasileira, como Getúlio Vargas e João Goulart. Disse ainda que o país vive uma fratura social e precisa de reconciliação.

Esta é a segunda guinada discursiva que Eduardo dá. No começo, Jair e Eduardo Bolsonaro chamavam a atenção do eleitorado homenageando Brilhante Ustra, conhecido como um símbolo da tortura perpetrada pelo regime militar. Era um golpe de sucesso; afinal, no governo Dilma Rousseff, a esquerda se empenhou em pintar a “luta armada” (leia-se, o terrorismo) como uma luta pela democracia. Esse revisionismo foi tamanho que Cesare Battisti, pluri-assassino italiano condenado na Itália, recebeu asilo político no Brasil e foi festejado como um símbolo da democracia. Seu advogado pessoal, Luís Roberto Barroso, foi indicado por Dilma Rousseff para o Supremo Tribunal Federal.

Nesse contexto, com essa esquerda dominante, Jair Bolsonaro ganhou holofotes votando a favor do impeachment de Dilma Rousseff “pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”. No ano eleitoral de 2018, Eduardo Bolsonaro posou com uma camiseta escrito “Ustra Vive”, abaixo do retrato do próprio. Assim, um chamado por reconciliação nacional é uma mudança e tanto.

Mas a primeira guinada discursiva de Eduardo Bolsonaro se deu com a escalada do autoritarismo do Supremo Tribunal Federal. Ele tinha feito o mesmo movimento que os neocons brasileiros e se transformou num defensor dos direitos humanos. Na verdade, é o mesmo movimento da esquerda armada, que inclusive usa o mesmo autor como referência. Gene Sharp foi divulgado no Brasil pelos adeptos da teologia da libertação, durante o regime militar, e pelos neocons brasileiros que seguiam Olavo de Carvalho, durante a escalada do STF. Basicamente, o plano era fazer estardalhaço, chamar a atenção do “mundo” (leia-se, dos EUA), ser reprimido, ser visto apanhando e recorrer a instâncias internacionais.

A direita brasileira apostou primeiro na OEA; depois, em sanções dos EUA. Eduardo Bolsonaro acabou liderando esse último movimento. A direita brasileira foi mais esperta do que a cubana e a venezuelana, pois, em vez de pedir sanções ao Brasil, pediu sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Sua meta era a aplicação da Lei Magnitiski. Ainda assim, foi festejadíssimo o anúncio, por Marco Rubio, de que os EUA divulgariam uma política contra estrangeiros que ferem os direitos dos estadunidenses à liberdade de expressão. Como há pelo menos um brasileiro (o jornalista Rodrigo Constantino) que ganhou cidadania dos EUA, reside na Flórida e teve suas redes sociais e canal de Youtube censurados (inclusive com bloqueio de pagamento) por Alexandre de Moraes, tudo leva a crer que ele seja punido pela nova política. Seria de esperar que a direita estivesse feliz com isso, correto? Errado.

A disputa pela liderança da direita

Aqui, chegamos a outro assunto, que é a provável causa da nova mudança de discurso de Eduardo Bolsonaro: boa parte da direita estava dando o bolsonarismo por morto, e esperava obrigar Jair Bolsonaro a apoiar um candidato aprovado pelo mercado financeiro. Por ora, o favorito do mercado é o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, eleito com a ajuda de Bolsonaro. Quase sempre sóbrio, ele tem feito performáticos leilões, onde bate efusivamente um martelinho. Parece haver uma estratégia publicitária que tenta torná-lo o Milei brasileiro.

Porém, como Tarcísio não tem carisma, o nome da ex-primeira dama Michelle, elegante e simpática (além de evangélica e sionista), tem sido posto em pesquisas e obtido bons resultados. Há outros governadores, como o mineiro Romeu Zema e o goiano Caiado. Há ainda famosos que são cotados e de repente desistem, como o cantor Gusttavo Lima. Last, but not least, o jovem youtuber e deputado federal Nikolas Ferreira, também evangélico e sionista, busca se consolidar como liderança independente e já aparece em pesquisas de popularidade, com bom desempenho. Diante dessas alternativas, começa a circular o discurso de que Jair Bolsonaro não aceita o surgimento de novas lideranças e erra ao pretender reverter a própria inelegibilidade ou indicar o filho.

O anúncio de Rubio ensejou uma entrevista com Eduardo Bolsonaro que o colocou na capa de uma importante revista brasileira, a Veja. Essa foi uma boa oportunidade para que o núcleo duro bolsonarismo averiguasse a postura dos aliados. Afinal, Jair Bolsonaro é um puxador de votos: muita gente de direita o procura para tirar foto e usar na campanha, mas, na hora agá, escolhe o caminho do mercado financeiro, que prefere “novas lideranças”. O grupo mais conhecido por fazer isso é o da Lava Jato, cujo líder, o ex-juiz Sérgio Moro, integrou o governo Bolsonaro e saiu atirando, divulgando filmagens internas de reuniões. Mesmo após a ruptura, políticos desse grupo seguem usando Bolsonaro para pedir votos. Como Bolsonaro não é criterioso ao tirar fotos, isso não é difícil de fazer. Basta se aproximar num dos muitos eventos públicos e fazer.

No frigir dos ovos, pouquíssimos deputados do PL (o partido que hospeda Bolsonaro e muitos bolsonaristas) divulgaram a capa da Veja ou parabenizaram Eduardo pela conquista. Nikolas Ferreira inclusive bloqueou uma seguidora que elogiou o feito de Eduardo em seu Twitter.

No mais, o jornalista porta-voz do núcleo duro do bolsonarismo, Kim Paim, aproveitou para contar que quem conseguiu arranjar a entrevista da Veja foi Fábio Wajngarten – advogado recém-demitido do PL a mando de Michelle Bolsonaro, porque, com os processos, vieram à tona conversas privadas em que Wajngarten se colocava contra uma eventual candidatura de Michelle à presidência. O judeu sionista preferiria lançar outro candidato evangélico sionista (como o tele-evangelista Silas Malafaia), e isso bastou para enfurecer Michelle.

Esquerdistas mais leais que os liberais

Além de tudo isso, há muito os bolsonaristas vinham observando que é mais fácil encontrar manifestações de solidariedade da parte do pequenino Partido da Causa Operária (cujos militantes usam e vendem camisetas do Hamas em eventos públicos, para desespero do lobby sionista) do que da parte do governador Tarcísio de Freitas, que se elegeu com o voto bolsonarista, ou de qualquer outra “nova liderança” a ser ungida pela Faria Lima (a nossa Wall Street).

O núcleo duro do bolsonarismo, então, perderam a vergonha de se aliar a setores da esquerda, em detrimento da direita liberal. Isso já vinha acontecendo de maneira velada desde, pelo menos 2024, ano de eleições municipais. Segundo não poucos, o trabalhista Ciro Gomes é o responsável pelo bom desempenho eleitoral do candidato bolsonarista à prefeitura de Fortaleza, capital do Ceará.

Ciro é uma liderança importante do Ceará e ex-aliado de Lula. Ele já se candidatou à presidência várias vezes, disputando a esquerda com o PT. No entanto, o PT quis manter a hegemonia da esquerda a qualquer preço, mesmo que não tivesse um candidato forte. A ruptura entre Ciro e o PT foi selada quando, no segundo turno da eleição presidencial de 2018, ele se recusou a fazer campanha para Fernando Haddad., que perdeu para Bolsonaro Haddad é o petista favorito da Faria Lima e hoje toca a austera política econômica no governo Lula. Apesar de deixar um rastro de destruição por onde passa (ele já foi ministro da educação e prefeito de São Paulo, tendo perdido a reeleição), Haddad continua sendo visto como sucessor de Lula e já é considerado plano B para 2026.

Os partidos de esquerda, então, vão de mal a pior – seguindo, talvez, o trajeto do Partido Democrata dos EUA. (Se a direita está cheia de sionistas, há poucos dias o senado aprovou, por unanimidade, o Dia da Amizade Brasil-Israel. O líder do PT no senado é um judeu sionista. Isso causou muito desconforto com a exígua base ideológica do PT.) Assim, a alteração do discurso de Eduardo Bolsonaro é uma reação a duas movimentações políticas: a deserção dos esquerdistas dos partidos de esquerda e a deserção dos liberais do bolsonarismo. Os esquerdistas tradicionais (que não querem saber de agenda woke e são contra o mercado financeiro) não têm um representante viável nos partidos de esquerda. Os liberais, por outro lado, traem o bolsonarismo e querem esperar a morte política de Lula para emplacar Tarcísio. E se um bolsonarista adotar um discurso nacionalista contrário aos interesses do mercado financeiro? Seria necessário não só um gesto convincente de reconciliação, como também um avalizador na esquerda.

Moraes ungiu um esquerdista

Outra peça para entendermos essa inusual união é Aldo Rebelo. Ele passou 40 anos no Partido Comunista do Brasil, foi ministro de Lula e Dilma (tendo estado à frente da pasta dos Esportes durante a Copa do Mundo, quando a esquerda woke queria sabotar o evento) e saiu do partido por causa do wokismo que o tomou. Apesar de Jair Bolsonaro ser anticomunista, era amigo de Aldo quando ambos eram deputados, e ambos tinham em comum a defesa do orçamento das Forças Armadas. Se Aldo já era um esquerdista benquisto aos olhos da direita, no dia 23 de maio Alexandre de Moraes o ungiu como um verdadeiro herói: quando Aldo testemunhava em defesa de um militar acusado de tentativa golpe de Estado, Moraes não gostou do seu depoimento e ameaçou prendê-lo caso não se comportasse. Altivo, Aldo Rebelo havia dito que não admite censura. Depois do incidente, ainda disse à imprensa que esperava um pedido de desculpas do ministro.

Por fim, semana passada foi ao ar um programa do Estúdio 5º Elemento, veículo próximo do bolsonarismo, com participação de Aldo Rebelo. Os temas eram o despertar da esquerda e uma possível união nacional. Aldo conversou com a bancada (que inclui Kim Paim) e pregou orgulho pela história da pátria, bem como alianças heterogêneas. Quem conhece o discurso habitual de Aldo Rebelo pôde reconhecê-lo no de Eduardo Bolsonaro – que até ontem estava reclamando da falta de democracia na Rússia e demonizando a china, China enquanto exaltava os EUA como farol de bondades no mundo. Por outro lado, a linha editorial do Estúdio 5º Elemento, um veículo de direita, é contrária a alinhamentos automáticos (seja aos EUA ou aos BRICS) e crítico do mercado financeiro. Ainda assim, para não ser injusta, é possível reconhecer no discurso de Eduardo Bolsonaro uma coisa que lhe é usual: o elogio a Orbán. Eduardo frequenta esses eventos internacionais de conservadores da nova direita, o que inclui tanto liberais como Milei, Weidel e Meloni, quanto o antiliberal Orbán.

Obviamente, não temos como saber se Eduardo irá se manter fiel ao novo discurso. No entanto, é certo que os liberais o pressionam para fora da direita; e, se um nome de peso da esquerda conseguir atrair a base órfã, isso o pressionará no mesmo sentido. Em 2018, o mercado financeiro se saiu bem quando uma coalizão antipetista elegeu Bolsonaro. Em 2022, saiu-se bem outra vez quando uma coalização anti-Bolsonaro elegeu Lula. Em 2026, pela primeira vez desde o pós-guerra, o liberalismo é que enfrentará uma coalizão – se Eduardo for fiel ao novo discurso.

Em meio à disputa pela liderança da direita, Eduardo Bolsonaro faz discurso nacionalista e acena para a esquerda

Neste domingo, Eduardo Bolsonaro, possível herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro, divulgou um vídeo aderindo ao nacionalismo.

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Neste domingo, Eduardo Bolsonaro, possível herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro, divulgou um vídeo aderindo ao nacionalismo. Ele elogiou não só o regime militar, como também ícones da esquerda brasileira, como Getúlio Vargas e João Goulart. Disse ainda que o país vive uma fratura social e precisa de reconciliação.

Esta é a segunda guinada discursiva que Eduardo dá. No começo, Jair e Eduardo Bolsonaro chamavam a atenção do eleitorado homenageando Brilhante Ustra, conhecido como um símbolo da tortura perpetrada pelo regime militar. Era um golpe de sucesso; afinal, no governo Dilma Rousseff, a esquerda se empenhou em pintar a “luta armada” (leia-se, o terrorismo) como uma luta pela democracia. Esse revisionismo foi tamanho que Cesare Battisti, pluri-assassino italiano condenado na Itália, recebeu asilo político no Brasil e foi festejado como um símbolo da democracia. Seu advogado pessoal, Luís Roberto Barroso, foi indicado por Dilma Rousseff para o Supremo Tribunal Federal.

Nesse contexto, com essa esquerda dominante, Jair Bolsonaro ganhou holofotes votando a favor do impeachment de Dilma Rousseff “pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”. No ano eleitoral de 2018, Eduardo Bolsonaro posou com uma camiseta escrito “Ustra Vive”, abaixo do retrato do próprio. Assim, um chamado por reconciliação nacional é uma mudança e tanto.

Mas a primeira guinada discursiva de Eduardo Bolsonaro se deu com a escalada do autoritarismo do Supremo Tribunal Federal. Ele tinha feito o mesmo movimento que os neocons brasileiros e se transformou num defensor dos direitos humanos. Na verdade, é o mesmo movimento da esquerda armada, que inclusive usa o mesmo autor como referência. Gene Sharp foi divulgado no Brasil pelos adeptos da teologia da libertação, durante o regime militar, e pelos neocons brasileiros que seguiam Olavo de Carvalho, durante a escalada do STF. Basicamente, o plano era fazer estardalhaço, chamar a atenção do “mundo” (leia-se, dos EUA), ser reprimido, ser visto apanhando e recorrer a instâncias internacionais.

A direita brasileira apostou primeiro na OEA; depois, em sanções dos EUA. Eduardo Bolsonaro acabou liderando esse último movimento. A direita brasileira foi mais esperta do que a cubana e a venezuelana, pois, em vez de pedir sanções ao Brasil, pediu sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Sua meta era a aplicação da Lei Magnitiski. Ainda assim, foi festejadíssimo o anúncio, por Marco Rubio, de que os EUA divulgariam uma política contra estrangeiros que ferem os direitos dos estadunidenses à liberdade de expressão. Como há pelo menos um brasileiro (o jornalista Rodrigo Constantino) que ganhou cidadania dos EUA, reside na Flórida e teve suas redes sociais e canal de Youtube censurados (inclusive com bloqueio de pagamento) por Alexandre de Moraes, tudo leva a crer que ele seja punido pela nova política. Seria de esperar que a direita estivesse feliz com isso, correto? Errado.

A disputa pela liderança da direita

Aqui, chegamos a outro assunto, que é a provável causa da nova mudança de discurso de Eduardo Bolsonaro: boa parte da direita estava dando o bolsonarismo por morto, e esperava obrigar Jair Bolsonaro a apoiar um candidato aprovado pelo mercado financeiro. Por ora, o favorito do mercado é o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, eleito com a ajuda de Bolsonaro. Quase sempre sóbrio, ele tem feito performáticos leilões, onde bate efusivamente um martelinho. Parece haver uma estratégia publicitária que tenta torná-lo o Milei brasileiro.

Porém, como Tarcísio não tem carisma, o nome da ex-primeira dama Michelle, elegante e simpática (além de evangélica e sionista), tem sido posto em pesquisas e obtido bons resultados. Há outros governadores, como o mineiro Romeu Zema e o goiano Caiado. Há ainda famosos que são cotados e de repente desistem, como o cantor Gusttavo Lima. Last, but not least, o jovem youtuber e deputado federal Nikolas Ferreira, também evangélico e sionista, busca se consolidar como liderança independente e já aparece em pesquisas de popularidade, com bom desempenho. Diante dessas alternativas, começa a circular o discurso de que Jair Bolsonaro não aceita o surgimento de novas lideranças e erra ao pretender reverter a própria inelegibilidade ou indicar o filho.

O anúncio de Rubio ensejou uma entrevista com Eduardo Bolsonaro que o colocou na capa de uma importante revista brasileira, a Veja. Essa foi uma boa oportunidade para que o núcleo duro bolsonarismo averiguasse a postura dos aliados. Afinal, Jair Bolsonaro é um puxador de votos: muita gente de direita o procura para tirar foto e usar na campanha, mas, na hora agá, escolhe o caminho do mercado financeiro, que prefere “novas lideranças”. O grupo mais conhecido por fazer isso é o da Lava Jato, cujo líder, o ex-juiz Sérgio Moro, integrou o governo Bolsonaro e saiu atirando, divulgando filmagens internas de reuniões. Mesmo após a ruptura, políticos desse grupo seguem usando Bolsonaro para pedir votos. Como Bolsonaro não é criterioso ao tirar fotos, isso não é difícil de fazer. Basta se aproximar num dos muitos eventos públicos e fazer.

No frigir dos ovos, pouquíssimos deputados do PL (o partido que hospeda Bolsonaro e muitos bolsonaristas) divulgaram a capa da Veja ou parabenizaram Eduardo pela conquista. Nikolas Ferreira inclusive bloqueou uma seguidora que elogiou o feito de Eduardo em seu Twitter.

No mais, o jornalista porta-voz do núcleo duro do bolsonarismo, Kim Paim, aproveitou para contar que quem conseguiu arranjar a entrevista da Veja foi Fábio Wajngarten – advogado recém-demitido do PL a mando de Michelle Bolsonaro, porque, com os processos, vieram à tona conversas privadas em que Wajngarten se colocava contra uma eventual candidatura de Michelle à presidência. O judeu sionista preferiria lançar outro candidato evangélico sionista (como o tele-evangelista Silas Malafaia), e isso bastou para enfurecer Michelle.

Esquerdistas mais leais que os liberais

Além de tudo isso, há muito os bolsonaristas vinham observando que é mais fácil encontrar manifestações de solidariedade da parte do pequenino Partido da Causa Operária (cujos militantes usam e vendem camisetas do Hamas em eventos públicos, para desespero do lobby sionista) do que da parte do governador Tarcísio de Freitas, que se elegeu com o voto bolsonarista, ou de qualquer outra “nova liderança” a ser ungida pela Faria Lima (a nossa Wall Street).

O núcleo duro do bolsonarismo, então, perderam a vergonha de se aliar a setores da esquerda, em detrimento da direita liberal. Isso já vinha acontecendo de maneira velada desde, pelo menos 2024, ano de eleições municipais. Segundo não poucos, o trabalhista Ciro Gomes é o responsável pelo bom desempenho eleitoral do candidato bolsonarista à prefeitura de Fortaleza, capital do Ceará.

Ciro é uma liderança importante do Ceará e ex-aliado de Lula. Ele já se candidatou à presidência várias vezes, disputando a esquerda com o PT. No entanto, o PT quis manter a hegemonia da esquerda a qualquer preço, mesmo que não tivesse um candidato forte. A ruptura entre Ciro e o PT foi selada quando, no segundo turno da eleição presidencial de 2018, ele se recusou a fazer campanha para Fernando Haddad., que perdeu para Bolsonaro Haddad é o petista favorito da Faria Lima e hoje toca a austera política econômica no governo Lula. Apesar de deixar um rastro de destruição por onde passa (ele já foi ministro da educação e prefeito de São Paulo, tendo perdido a reeleição), Haddad continua sendo visto como sucessor de Lula e já é considerado plano B para 2026.

Os partidos de esquerda, então, vão de mal a pior – seguindo, talvez, o trajeto do Partido Democrata dos EUA. (Se a direita está cheia de sionistas, há poucos dias o senado aprovou, por unanimidade, o Dia da Amizade Brasil-Israel. O líder do PT no senado é um judeu sionista. Isso causou muito desconforto com a exígua base ideológica do PT.) Assim, a alteração do discurso de Eduardo Bolsonaro é uma reação a duas movimentações políticas: a deserção dos esquerdistas dos partidos de esquerda e a deserção dos liberais do bolsonarismo. Os esquerdistas tradicionais (que não querem saber de agenda woke e são contra o mercado financeiro) não têm um representante viável nos partidos de esquerda. Os liberais, por outro lado, traem o bolsonarismo e querem esperar a morte política de Lula para emplacar Tarcísio. E se um bolsonarista adotar um discurso nacionalista contrário aos interesses do mercado financeiro? Seria necessário não só um gesto convincente de reconciliação, como também um avalizador na esquerda.

Moraes ungiu um esquerdista

Outra peça para entendermos essa inusual união é Aldo Rebelo. Ele passou 40 anos no Partido Comunista do Brasil, foi ministro de Lula e Dilma (tendo estado à frente da pasta dos Esportes durante a Copa do Mundo, quando a esquerda woke queria sabotar o evento) e saiu do partido por causa do wokismo que o tomou. Apesar de Jair Bolsonaro ser anticomunista, era amigo de Aldo quando ambos eram deputados, e ambos tinham em comum a defesa do orçamento das Forças Armadas. Se Aldo já era um esquerdista benquisto aos olhos da direita, no dia 23 de maio Alexandre de Moraes o ungiu como um verdadeiro herói: quando Aldo testemunhava em defesa de um militar acusado de tentativa golpe de Estado, Moraes não gostou do seu depoimento e ameaçou prendê-lo caso não se comportasse. Altivo, Aldo Rebelo havia dito que não admite censura. Depois do incidente, ainda disse à imprensa que esperava um pedido de desculpas do ministro.

Por fim, semana passada foi ao ar um programa do Estúdio 5º Elemento, veículo próximo do bolsonarismo, com participação de Aldo Rebelo. Os temas eram o despertar da esquerda e uma possível união nacional. Aldo conversou com a bancada (que inclui Kim Paim) e pregou orgulho pela história da pátria, bem como alianças heterogêneas. Quem conhece o discurso habitual de Aldo Rebelo pôde reconhecê-lo no de Eduardo Bolsonaro – que até ontem estava reclamando da falta de democracia na Rússia e demonizando a china, China enquanto exaltava os EUA como farol de bondades no mundo. Por outro lado, a linha editorial do Estúdio 5º Elemento, um veículo de direita, é contrária a alinhamentos automáticos (seja aos EUA ou aos BRICS) e crítico do mercado financeiro. Ainda assim, para não ser injusta, é possível reconhecer no discurso de Eduardo Bolsonaro uma coisa que lhe é usual: o elogio a Orbán. Eduardo frequenta esses eventos internacionais de conservadores da nova direita, o que inclui tanto liberais como Milei, Weidel e Meloni, quanto o antiliberal Orbán.

Obviamente, não temos como saber se Eduardo irá se manter fiel ao novo discurso. No entanto, é certo que os liberais o pressionam para fora da direita; e, se um nome de peso da esquerda conseguir atrair a base órfã, isso o pressionará no mesmo sentido. Em 2018, o mercado financeiro se saiu bem quando uma coalizão antipetista elegeu Bolsonaro. Em 2022, saiu-se bem outra vez quando uma coalização anti-Bolsonaro elegeu Lula. Em 2026, pela primeira vez desde o pós-guerra, o liberalismo é que enfrentará uma coalizão – se Eduardo for fiel ao novo discurso.

Neste domingo, Eduardo Bolsonaro, possível herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro, divulgou um vídeo aderindo ao nacionalismo.

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Neste domingo, Eduardo Bolsonaro, possível herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro, divulgou um vídeo aderindo ao nacionalismo. Ele elogiou não só o regime militar, como também ícones da esquerda brasileira, como Getúlio Vargas e João Goulart. Disse ainda que o país vive uma fratura social e precisa de reconciliação.

Esta é a segunda guinada discursiva que Eduardo dá. No começo, Jair e Eduardo Bolsonaro chamavam a atenção do eleitorado homenageando Brilhante Ustra, conhecido como um símbolo da tortura perpetrada pelo regime militar. Era um golpe de sucesso; afinal, no governo Dilma Rousseff, a esquerda se empenhou em pintar a “luta armada” (leia-se, o terrorismo) como uma luta pela democracia. Esse revisionismo foi tamanho que Cesare Battisti, pluri-assassino italiano condenado na Itália, recebeu asilo político no Brasil e foi festejado como um símbolo da democracia. Seu advogado pessoal, Luís Roberto Barroso, foi indicado por Dilma Rousseff para o Supremo Tribunal Federal.

Nesse contexto, com essa esquerda dominante, Jair Bolsonaro ganhou holofotes votando a favor do impeachment de Dilma Rousseff “pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”. No ano eleitoral de 2018, Eduardo Bolsonaro posou com uma camiseta escrito “Ustra Vive”, abaixo do retrato do próprio. Assim, um chamado por reconciliação nacional é uma mudança e tanto.

Mas a primeira guinada discursiva de Eduardo Bolsonaro se deu com a escalada do autoritarismo do Supremo Tribunal Federal. Ele tinha feito o mesmo movimento que os neocons brasileiros e se transformou num defensor dos direitos humanos. Na verdade, é o mesmo movimento da esquerda armada, que inclusive usa o mesmo autor como referência. Gene Sharp foi divulgado no Brasil pelos adeptos da teologia da libertação, durante o regime militar, e pelos neocons brasileiros que seguiam Olavo de Carvalho, durante a escalada do STF. Basicamente, o plano era fazer estardalhaço, chamar a atenção do “mundo” (leia-se, dos EUA), ser reprimido, ser visto apanhando e recorrer a instâncias internacionais.

A direita brasileira apostou primeiro na OEA; depois, em sanções dos EUA. Eduardo Bolsonaro acabou liderando esse último movimento. A direita brasileira foi mais esperta do que a cubana e a venezuelana, pois, em vez de pedir sanções ao Brasil, pediu sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Sua meta era a aplicação da Lei Magnitiski. Ainda assim, foi festejadíssimo o anúncio, por Marco Rubio, de que os EUA divulgariam uma política contra estrangeiros que ferem os direitos dos estadunidenses à liberdade de expressão. Como há pelo menos um brasileiro (o jornalista Rodrigo Constantino) que ganhou cidadania dos EUA, reside na Flórida e teve suas redes sociais e canal de Youtube censurados (inclusive com bloqueio de pagamento) por Alexandre de Moraes, tudo leva a crer que ele seja punido pela nova política. Seria de esperar que a direita estivesse feliz com isso, correto? Errado.

A disputa pela liderança da direita

Aqui, chegamos a outro assunto, que é a provável causa da nova mudança de discurso de Eduardo Bolsonaro: boa parte da direita estava dando o bolsonarismo por morto, e esperava obrigar Jair Bolsonaro a apoiar um candidato aprovado pelo mercado financeiro. Por ora, o favorito do mercado é o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas, eleito com a ajuda de Bolsonaro. Quase sempre sóbrio, ele tem feito performáticos leilões, onde bate efusivamente um martelinho. Parece haver uma estratégia publicitária que tenta torná-lo o Milei brasileiro.

Porém, como Tarcísio não tem carisma, o nome da ex-primeira dama Michelle, elegante e simpática (além de evangélica e sionista), tem sido posto em pesquisas e obtido bons resultados. Há outros governadores, como o mineiro Romeu Zema e o goiano Caiado. Há ainda famosos que são cotados e de repente desistem, como o cantor Gusttavo Lima. Last, but not least, o jovem youtuber e deputado federal Nikolas Ferreira, também evangélico e sionista, busca se consolidar como liderança independente e já aparece em pesquisas de popularidade, com bom desempenho. Diante dessas alternativas, começa a circular o discurso de que Jair Bolsonaro não aceita o surgimento de novas lideranças e erra ao pretender reverter a própria inelegibilidade ou indicar o filho.

O anúncio de Rubio ensejou uma entrevista com Eduardo Bolsonaro que o colocou na capa de uma importante revista brasileira, a Veja. Essa foi uma boa oportunidade para que o núcleo duro bolsonarismo averiguasse a postura dos aliados. Afinal, Jair Bolsonaro é um puxador de votos: muita gente de direita o procura para tirar foto e usar na campanha, mas, na hora agá, escolhe o caminho do mercado financeiro, que prefere “novas lideranças”. O grupo mais conhecido por fazer isso é o da Lava Jato, cujo líder, o ex-juiz Sérgio Moro, integrou o governo Bolsonaro e saiu atirando, divulgando filmagens internas de reuniões. Mesmo após a ruptura, políticos desse grupo seguem usando Bolsonaro para pedir votos. Como Bolsonaro não é criterioso ao tirar fotos, isso não é difícil de fazer. Basta se aproximar num dos muitos eventos públicos e fazer.

No frigir dos ovos, pouquíssimos deputados do PL (o partido que hospeda Bolsonaro e muitos bolsonaristas) divulgaram a capa da Veja ou parabenizaram Eduardo pela conquista. Nikolas Ferreira inclusive bloqueou uma seguidora que elogiou o feito de Eduardo em seu Twitter.

No mais, o jornalista porta-voz do núcleo duro do bolsonarismo, Kim Paim, aproveitou para contar que quem conseguiu arranjar a entrevista da Veja foi Fábio Wajngarten – advogado recém-demitido do PL a mando de Michelle Bolsonaro, porque, com os processos, vieram à tona conversas privadas em que Wajngarten se colocava contra uma eventual candidatura de Michelle à presidência. O judeu sionista preferiria lançar outro candidato evangélico sionista (como o tele-evangelista Silas Malafaia), e isso bastou para enfurecer Michelle.

Esquerdistas mais leais que os liberais

Além de tudo isso, há muito os bolsonaristas vinham observando que é mais fácil encontrar manifestações de solidariedade da parte do pequenino Partido da Causa Operária (cujos militantes usam e vendem camisetas do Hamas em eventos públicos, para desespero do lobby sionista) do que da parte do governador Tarcísio de Freitas, que se elegeu com o voto bolsonarista, ou de qualquer outra “nova liderança” a ser ungida pela Faria Lima (a nossa Wall Street).

O núcleo duro do bolsonarismo, então, perderam a vergonha de se aliar a setores da esquerda, em detrimento da direita liberal. Isso já vinha acontecendo de maneira velada desde, pelo menos 2024, ano de eleições municipais. Segundo não poucos, o trabalhista Ciro Gomes é o responsável pelo bom desempenho eleitoral do candidato bolsonarista à prefeitura de Fortaleza, capital do Ceará.

Ciro é uma liderança importante do Ceará e ex-aliado de Lula. Ele já se candidatou à presidência várias vezes, disputando a esquerda com o PT. No entanto, o PT quis manter a hegemonia da esquerda a qualquer preço, mesmo que não tivesse um candidato forte. A ruptura entre Ciro e o PT foi selada quando, no segundo turno da eleição presidencial de 2018, ele se recusou a fazer campanha para Fernando Haddad., que perdeu para Bolsonaro Haddad é o petista favorito da Faria Lima e hoje toca a austera política econômica no governo Lula. Apesar de deixar um rastro de destruição por onde passa (ele já foi ministro da educação e prefeito de São Paulo, tendo perdido a reeleição), Haddad continua sendo visto como sucessor de Lula e já é considerado plano B para 2026.

Os partidos de esquerda, então, vão de mal a pior – seguindo, talvez, o trajeto do Partido Democrata dos EUA. (Se a direita está cheia de sionistas, há poucos dias o senado aprovou, por unanimidade, o Dia da Amizade Brasil-Israel. O líder do PT no senado é um judeu sionista. Isso causou muito desconforto com a exígua base ideológica do PT.) Assim, a alteração do discurso de Eduardo Bolsonaro é uma reação a duas movimentações políticas: a deserção dos esquerdistas dos partidos de esquerda e a deserção dos liberais do bolsonarismo. Os esquerdistas tradicionais (que não querem saber de agenda woke e são contra o mercado financeiro) não têm um representante viável nos partidos de esquerda. Os liberais, por outro lado, traem o bolsonarismo e querem esperar a morte política de Lula para emplacar Tarcísio. E se um bolsonarista adotar um discurso nacionalista contrário aos interesses do mercado financeiro? Seria necessário não só um gesto convincente de reconciliação, como também um avalizador na esquerda.

Moraes ungiu um esquerdista

Outra peça para entendermos essa inusual união é Aldo Rebelo. Ele passou 40 anos no Partido Comunista do Brasil, foi ministro de Lula e Dilma (tendo estado à frente da pasta dos Esportes durante a Copa do Mundo, quando a esquerda woke queria sabotar o evento) e saiu do partido por causa do wokismo que o tomou. Apesar de Jair Bolsonaro ser anticomunista, era amigo de Aldo quando ambos eram deputados, e ambos tinham em comum a defesa do orçamento das Forças Armadas. Se Aldo já era um esquerdista benquisto aos olhos da direita, no dia 23 de maio Alexandre de Moraes o ungiu como um verdadeiro herói: quando Aldo testemunhava em defesa de um militar acusado de tentativa golpe de Estado, Moraes não gostou do seu depoimento e ameaçou prendê-lo caso não se comportasse. Altivo, Aldo Rebelo havia dito que não admite censura. Depois do incidente, ainda disse à imprensa que esperava um pedido de desculpas do ministro.

Por fim, semana passada foi ao ar um programa do Estúdio 5º Elemento, veículo próximo do bolsonarismo, com participação de Aldo Rebelo. Os temas eram o despertar da esquerda e uma possível união nacional. Aldo conversou com a bancada (que inclui Kim Paim) e pregou orgulho pela história da pátria, bem como alianças heterogêneas. Quem conhece o discurso habitual de Aldo Rebelo pôde reconhecê-lo no de Eduardo Bolsonaro – que até ontem estava reclamando da falta de democracia na Rússia e demonizando a china, China enquanto exaltava os EUA como farol de bondades no mundo. Por outro lado, a linha editorial do Estúdio 5º Elemento, um veículo de direita, é contrária a alinhamentos automáticos (seja aos EUA ou aos BRICS) e crítico do mercado financeiro. Ainda assim, para não ser injusta, é possível reconhecer no discurso de Eduardo Bolsonaro uma coisa que lhe é usual: o elogio a Orbán. Eduardo frequenta esses eventos internacionais de conservadores da nova direita, o que inclui tanto liberais como Milei, Weidel e Meloni, quanto o antiliberal Orbán.

Obviamente, não temos como saber se Eduardo irá se manter fiel ao novo discurso. No entanto, é certo que os liberais o pressionam para fora da direita; e, se um nome de peso da esquerda conseguir atrair a base órfã, isso o pressionará no mesmo sentido. Em 2018, o mercado financeiro se saiu bem quando uma coalizão antipetista elegeu Bolsonaro. Em 2022, saiu-se bem outra vez quando uma coalização anti-Bolsonaro elegeu Lula. Em 2026, pela primeira vez desde o pós-guerra, o liberalismo é que enfrentará uma coalizão – se Eduardo for fiel ao novo discurso.

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